Lisboa – O Embaixador Celso Amorim, ministro da Defesa do governo Dilma
Rousseff, errou redondamente ao anunciar que puniria, por indisciplina, os
militares da reserva que, em manifesto, criticaram o governo. Antes de mais
nada, deixo bem claro que sou terminantemente contrário à manifestação pública
de militares da ativa. E, como democrata, obediente às leis do meu país, nada
tenho contra a manifestação pública de militares da reserva.
No primeiro caso, sou contra porque feriria um princípio básico da
disciplina militar: a crítica à presidente, que é, por quatro anos, comandante
em chefe das Forças Armadas. Já os da reserva, sem tropa, sem comando, sem
armas, viram cidadãos comuns, aos quais não deve ser negado o direito de
opinião política.
Não está em jogo aqui se concordo, ou não, com o que escreveram no
manifesto, mas sim a inegável prerrogativa que a lei lhes assegura de dizer o
que pensam abertamente. Criticaram Sarney, Collor, Itamar Franco, Fernando
Henrique, Lula. Por que não poderiam criticar Dilma?
Celso Amorim foi longe demais. O manifesto, que nasceu pequeno, já reúne
milhares de assinaturas de militares e civis. Foi longe para, depois, recuar:
“os chefes militares decidirão se deve haver punição”.
Está cansado de saber que não haverá punição nenhuma e que, se houvesse,
ela seria derrubada nos tribunais. A única coisa que conseguiu com a “valentia”
foi perder um naco de sua autoridade para os próprios chefes das três forças. E
expôs faceta autoritária do governo que aí está.
Impressionante é que o Celso “esquerdista” de hoje serviu com
desenvoltura à ditadura militar, presidindo a Embrafilme. Naquela época, quem
falava grosso era o militar da ativa. Alguns, como eu próprio e tantos outros,
íamos às ruas em luta pela redemocratização. Ele, exatamente como faz hoje com
o petismo, limitava-se a aplaudir e obedecer.
Antes, curvava-se aos militares da ativa; hoje, gostaria de poder
silenciar os da reserva, que têm amparo legal para falar livremente. A
“competência” para servir ao poder é a mesma de sempre. Afinal, foi quem
primeiro chamou o então presidente Lula de “nosso guia”. Na Rússia stalinista,
denominavam o ditador sanguinário de “guia genial dos povos”. Mas aí a culpa
não é do Celso, que nem nascido era e, portanto, não conheceu Stálin nem serviu
ao seu governo.
Lembro-me do “King Kong” internacional que fez Lula passar, induzindo-o,
junto com a Turquia e à revelia das grandes potências, a “negociar” limites
para o programa nuclear iraniano. Não houve quem levasse a sério a “armação”.
Nem o próprio Irã, que queria, a todo custo, sair do isolamento e encontrou
incautos, dizendo acreditar em suas intenções “pacíficas”.
Celso dos mil erros. Como ministro da Defesa, já
levou o primeiro puxão de orelha dos militares da reserva. Tomara que seja o
último.
Diplomata, foi líder do PSDB no Senado
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