quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Saudações partidárias

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A cerimônia de posse de Aldo Rebelo no Ministério do Esporte não foi a primeira a se transformar em ato de desagravo ao demitido, nesse verdadeiro dominó de queda de ministros em série na administração Dilma Rousseff.

Orlando Silva, a despeito de todas as denúncias que levaram a presidente da demissão à ordem para uma devassa nos convênios da pasta com ONGs, foi celebrado, elogiado, aplaudido de pé e condecorado com a condição de “vítima” pelo sucessor.

Em junho, a posse de Gleisi Hoffmann na Casa Civil já fora uma sessão de homenagem a Antonio Palocci, demitido por não conseguir explicar a legalidade do crescimento de seu patrimônio. Na ocasião, Palocci também foi aplaudido de pé pela plateia e chamado de “amigo” pela presidente.

Esquisito, já que a saída se deu por motivo de quebra de confiança, mas com boa vontade e algum cinismo compreende-se que o aspecto estritamente partidário pesa. Ademais, o PT daquela vez não estava envolvido na confusão.

Já com o PCdoB a coisa foi diferente. Contra Orlando Silva há inúmeras evidências de que dirigia o ministério com mãos excessivamente frouxas e todas envolviam o partido, sobejamente favorecido com dinheiro do ministério.

Levantamento feito pelo jornal “O Globo” a partir de documentos de tribunais de contas mostra que 73% das verbas liberadas irregularmente foram para entidades ligadas ao PCdoB. Partido que consagra em seu estatuto o princípio de que os filiados ocupantes de cargos públicos devem estar “a serviço do projeto político partidário”.

Em comparação com o PT – com presença forte no Parlamento e em todo o país, além de três vezes vitorioso na eleição presidencial – as reverências em relação ao PCdoB, que até direito a discurso do presidente da legenda teve na posse de Aldo, suscitam a dúvida: o que deve o governo tanto ao PCdoB? Alguma carta muito poderosa essa agremiação com 14 deputados federais, 18 estaduais, 2 senadores e 608 vereadores guarda na manga para merecer tanta atenção. A representatividade popular é que não é.
Seja qual for a razão, a festança de segunda-feira no Palácio do Planalto consolidou a impressão de que na coalizão governamental há partidos de primeira e segunda categorias. E é nas despedidas, nas posses dos substitutos, que essas diferenças ficam marcadas.

Há os demitidos de luxo, por assim dizer, que merecem tratamento especial, são tratados como legítimos heróis da resistência e há o pessoal que viaja para fora do governo na classe econômica, relegado à frugalidade.

Depois de Palocci foi demitido Alfredo Nascimento (PR), dos Transportes, cujo substituto, Paulo Sérgio Passos, nem sequer contou com cerimônia de posse alegadamente por já ser o secretário-executivo da pasta. Ficou só com a nomeação no Diário Oficial. Sem discursos nem reverências ao demitido.

Mas para Orlando, nem o céu foi o limite para tantas saudações. Não se esperava que a presidente o humilhasse ou coisa parecida. Mas tantos elogios só encontram explicação na necessidade de governo e partido falarem “para dentro”.

Quando caberia que falassem “para fora”, aos brasileiros que nas últimas semanas souberam que o Ministério do Esporte era um braço avançado do PCdoB. Dilma emitiu um sinal dúbio e, na prática, tornou menos verossímil a presumida disposição de dar um choque de ordem na Esplanada.

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